Renata bento

O ASSÉDIO MORAL E SEUS EFEITOS PSICOLÓGICOS

O assédio moral não é algo novo. Desde que surgiram as primeiras relações de trabalho já podia ser observado esse tipo de assédio. O que pode ser chamado de atual é a forma como as pessoas passaram a reagir diante desse fenômeno; foi a partir da década de oitenta que passou a ser visto como problema social e ato ilícito a ser combatido, justamente por suas consequências emocionais danosas. Isso mostra que, buscar ajuda, informação e denunciar indica saúde mental e evita maiores efeitos negativos.

Com todo avanço tecnológico, onde situações podem ser gravadas e/ou filmadas, e, ainda com a possibilidade de se poder falar a respeito, seja através das mídias, ou no próprio ambiente de trabalho, as vítimas se sentem mais encorajadas a comunicar situações de crueldade no ambiente institucional. Ainda se nota o medo de perder o emprego, ou de denunciar por receio de represálias, ou ainda que a situação possa ser invertida a favor do agressor, como por exemplo, criando caminhos para a vítima ser demitida por justa causa. Além disso , observa-se que a vítima se sente emocionalmente aprisionada ao agressor chegando até a duvidar de suas qualidades.

Uma das situações que podem ocorrer é o desgaste emocional da vítima e como consequência a diminuição da capacidade laboral, caminhando assim para o rompimento da relação de trabalho. É fato que situações como essas, lamentavelmente, podem acontecer. E é exatamente por isso que os indivíduos precisam ser informados de que não se trata de algo normal, mas que é infelizmente comum, o fato de serem subjugados e agredidos psicologicamente no ambiente de trabalho.

O assédio moral afronta a dignidade e escoa a integridade psicológica da vítima deixando-a com alto grau de ansiedade e medo; a relação passa a ser permeada pela angústia, o rendimento tende a diminuir e a pessoa fica debilitada, devido aos ataques a sua saúde mental. A autoestima é prejudicada e as sucessivas agressões psicológicas podem funcionar como gatilho para diversos distúrbios emocionais e psiquiátricos; aos poucos vai destruindo sua capacidade de trabalho e resistência psicológica; afeta, além, do ambiente de trabalho, também as relações sociais e familiares.

Os principais distúrbios emocionais encontrados em vítimas do assédio moral são a depressão, a ansiedade que pode levar a crises de pânico, burnout, distúrbios alimentares e do sono, alcoolismo, e até mesmo, em situações mais graves, ao suicídio.

Na prática, o assédio moral se configura por terror psicológico que se manifesta através de sucessivas ações de maus-tratos frequentes, através de atos como humilhações, ofensas verbais, sabotagens, exposição ao constrangimento, hostilidade declarada ou encoberta, intimidação, chantagens e/ou ameaças veladas ou explícitas, durante o exercício de sua função. Muitas vezes o agressor consegue convencer a vítima de que suas atitudes servem para torná-lo mais preparado para o trabalho. O agressor deturpa a relação e leva a vítima a crer que se ela se sente mal é porque não é suficientemente forte, capaz e boa profissional. Esse movimento cria uma dependência pelo agressor, pois a vítima acredita que ele possa ajudá-la a desenvolver habilidades que ela desconfia não ter.

Como o assédio moral afeta o equilíbrio emocional da vítima, a forma de se relacionar com o seu entorno fica prejudicada. O sentimento de impotência, de frustração, de não aceitação, pode fazer emergir com mais facilidade, a agressividade contra si próprio ou ao outro.Muito mais frequente a agressividade surgi contra si próprio , na impossibilidade de explodir , a pessoa implode, é nesse momento que sua autoestima fica prejudicada e se cria espaço para os distúrbios psíquicos.

O agressor/assediador com seu narcisismo e egocentrismo preponderantes, intimida, se sente mais forte e mais apto que o outro; e através de sua alta capacidade de observação sobre o comportamento alheio, identifica a vulnerabilidade; é nessas circunstâncias que sente que há espaço para destilar sua agressividade e transformar a vítima em sua presa. O agressor se alimenta da fragilidade da vítima.

O mais importante a fazer quando se identifica que está sendo vítima de assédio é buscar criar mecanismos de autoproteção, já que o agressor vai se utilizar da fragilidade e da vulnerabilidade emocional para se beneficiar.

Desvencilhar-se dessa teia perversa é difícil porque a dinâmica estabelecida aprisiona, mas, é possível. O apoio psicológico é fundamental para que se possa fortalecer a autoestima e não se deixar abater pelos ataques, ou ajudar a sair desse círculo vicioso. A pessoa fortalecida emocionalmente não entra nesse jogo adoecido, ou se entra, sai rapidamente. Infelizmente o que se verifica é que a legislação brasileira ainda se mostra insipiente quanto aos critérios que possam configurar o assédio e suas consequências. Alguns mecanismos de repressão podem ser encontrados no funcionalismo público, mas empresas privadas ainda não possuem instrumentos claros para coibir o assédio. Em não havendo uma legislação unificada, torna-se compreensível o receio das vítimas em denunciar.

É importante que as empresas adotem formas de coibir o assédio, seja, por parte dos superiores hierárquicos, ou de seus pares por meio de políticas preventivas, campanhas educativas e informativas, a fim de promover bem-estar e saúde ao trabalhador, através de um ambiente de trabalho saudável.

Diante das consequências desastrosas do assédio que podem trazer adoecimento a vítima, a empresa será responsabilizada e poderá ter que arcar com o ônus de um processo judicial com pagamento indenizatório por danos morais.

É importante lembrar que uma pessoa passa muito tempo em seu local de trabalho ou em função dele; isso significa que o trabalho é um ponto importante na vida de uma pessoa; mas não pode ser considerado o único. As sequelas emocionais causadas pelo assédio moral podem incapacitar parcial ou até plenamente uma pessoa.

Submeter o trabalhador a pressão psicológica não aumentará a produtividade, ao contrário, levará a estafa emocional, diminuindo sua capacidade criativa, funcional e psicológica. Proporcionar um ambiente saudável, com postura mais humana, contribuirá no aumento do bem-estar e poderá ajudar no aumento da produtividade.

RENATA BENTO – Psicanalista – Psicóloga. Membro Associado da Sociedade Brasileira de Psicanálise do Rio de Janeiro. Membro da International Psychoanalytical Association – UK.Membro da Federación Psicoanalítica de América Latina – Fepal. Especialização em Psicologia clínica com criança PUC-RJ. Perita ad hoc do TJ/Rj – RJ. Assistente Técnica em processo judicial.


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